Estudante Renato Sette espera que método apareça nos livros de matemática.
Pais apoiaram iniciativa; cálculo foi registrado em cartório de Caruaru, PE.
Renato Sette, aos 13 anos de idade, encontrou um método de multiplicação utilizando a subtração. Em Caruaru, Agreste de Pernambuco, o estudante percebeu que é possível obter o resultado de qualquer número multiplicado por nove, sem necessariamente realizar o cálculo completo [veja o vídeo abaixo], para chegar ao resultado. Com o método, o estudante visa contribuir no ensino da disciplina.
O G1 entrou em contato com a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) para mostrar o método de multiplicação. Quem realizou a avaliação foi o professor doutor Ronaldo Alves Garcia, membro do conselho diretor da SBM. "Na minha avaliação, não tem nenhum ineditismo. Para outros números (8, 7, 6...) funciona adaptando-se o procedimento. O estudante apresenta potencial", disse.
O jovem estudante confessa que, no início, não gostava muito de matemática, mas espera que este método contribua de alguma forma com o estudo da matemática no futuro. “Eu jamais imaginaria que esta técnica fosse tomar uma dimensão como esta, mas eu creio que o conhecimento é como um fruto, temos que degustar para que não apodreça; por isso, sempre busco aprimorar meus estudos. Espero que um dia o 'Método Sette' apareça nos livros de matemática”, afirmou.
Registro em cartório
A técnica foi registrada em cartório pelo pai do menino, o procurador federal José de Barros Souto, e nomeada "Método Sette de Multiplicação". "Quando ele me contou o que tinha encontrado eu fiquei perplexo pelo fato de que ele enxergou uma coisa que não é trivial. Resolvi registrar o método em cartório. Nós debatemos juntos uma teoria que fundamentasse o cálculo para podermos fazer o registro. Já o nome foi uma brincadeira com o nome dele e o cálculo. Apesar do método ser de 'Sette', ele trabalha com o nove", contou o pai.
"Já faz tempo que eu comecei a fazer esse tipo de cálculo. Acho que eu tinha, mais ou menos, uns nove anos de idade. Quando a professora mandava algumas tarefas de multiplicação, eu fui tentando fazer de algum jeito mais simples. Eu queria simplificar tudo aquilo que eu tinha aprendido", disse ao G1 o estudante Renato Sette.
Ele conta que tentou realizar o método de várias formas até chegar ao definitivo. "Fui tentando fazer de um jeito, de outro, e não dava certo porque no princípio, não era por nove. Quando eu fui conseguindo fazer algo, mostrei aos meus pais e eles acharam interessante. Eu deixei a fórmula parada por um tempo e quando eu estava no 7º ano, em 2014, aprimorei ela. Foi quando descobri que dava para fazer por qualquer número e descobrir o valor dele multiplicado por nove. Mostrei novamente aos meus pais, mas ainda não tinha dito nada a Cacilda [Tenório]. Só esse ano eu mostrei para ela", explica.
Cacilda Tenório é a coordenadora do departamento de matemática do colégio no qual Renato estuda. O estudante mostrou o cálculo para ela durante os preparativos para a Olimpíada de Matemática. "Quando ele me mostrou, fiquei impressionada. Achei muito interessante e decidi pesquisar se havia algo parecido na matemática. Não encontrei nada. Foi quando eu decidi pedir ajuda ao professor Paulo Câmara, da UFPE [Universidade Federal de Pernambuco]. Ele também ficou impressionado", ressaltou a coordenadora.
O professor Paulo Câmara é mestre no ensino de matemática, leciona desde 1974 e é co-autor de livros da disciplina. Ele foi um dos especialistas que analisou o Método Sette e garante que nunca viu ninguém chegar a um valor de multiplicação de tal forma. "Nos meus mais de 40 anos de sala de aula, nunca vi esse cálculo do Renato. A matemática é muito de percepção. Há várias maneiras de saber o resultado de um determinado número multiplicado por nove. E o que o Renato fez foi encontrar uma nova forma. O mérito está na idade que ele tem e nele descobrir o cálculo sem ter visto em lugar nenhum. Pretendo incentivá-lo a continuar estudando matemática. O médoto que ele adotou é diferente e mais sofisticado. Quero fazer um artigo sobre o cálculo que ele desenvolveu", contou o professor ao G1.
Na sala de aula
Uma das coordenadoras do Ensino Fundamental da instituição que Renato frequenta conta como o menino é na sala de aula. "Ele é um aluno muito dedicado. O círculo de amizade dele também é formado por alunos muito bons e isso é muito importante", disse Jailma Pessoa.
Joelma Pereira, outra coordenadora do Ensino Fundamental, conta em qual momento percebeu que o menino tinha um diferencial para os cálculos. "Quando ele cursava o 5º ano, chamou muita atenção essa habilidade dele na matemática. Quando o aluno está realizando os testes de matemática, por exemplo, é necessário deixar os cálculos. Renato não deixava, porque fazia os cálculos mentalmente. Mas, para descobrirmos isso, precisamos conversar com ele e com os professores", lembrou.
O menino diz que no dia a dia procura auxiliar os colegas de sala. "De vez em quando meus amigos têm dúvidas e sempre vêm me perguntar, quando é algo de matemática. Eu não sou muito bom para ser professor, mas eu sempre ajudo".
Orgulho
A mãe de Renato, a advogada Magda Souto, afirma que ele sempre foi um menino quieto e muito dedicado. "Eu me sinto muito orgulhosa de ser mãe dele. Desde pequeno ele foi um menino que nunca deu trabalho. Ele é filho único. E, geralmente, filho único é mimado e cheio de vontades. Mas ele não. Sempre foi tranquilo e disciplinado. Para mim, o mais importante para você se destacar em alguma coisa é a disciplina. Eu e o pai dele sempre prezamos por isso. Em casa, tudo tem um horário para acontecer. Ele se diverte, joga basquete, luta caratê, estuda. Tudo sempre dentro do limite e das regras", ressalta.
Futuro
Renato Sette, apesar de ter encontrado um método matemático, ainda tem dúvidas de qual curso irá escolher na hora do vestibular. "Eu fico meio dividido. Queria seguir nas ciências exatas. Eu penso em alguma das Engenharias e, por incrível que pareça, eu também tenho uma certa vontade de fazer Direito", brincou o estudante.
Com informações http://g1.globo.com/