A internet costumava terreno de experimentações para as grandes universidades. Agora, ela é a peça central para o futuro de prestigiadas instituições. Na semana passada, a Universidade Harvard e Massachusetts Institute of Technology (MIT) anunciaram o edX, uma plataforma online de educação a distância que vai disponibilizar cursos e conteúdos na web a custo zero. “Nenhuma grande universidade hoje se furta a explorar as potencialidades da internet”, diz Alan Garber, responsável pela área acadêmica de Harvard e pela parceria com o MIT.
“Estar ausente nessa seara não é mais uma opção. A pergunta que as instituições se fazem agora é quando e como abraçar a internet.” Este é não é o primeiro investimento de Harvard em educação online mas certamente é o mais ambicioso. Com a nova ferramenta, a universidade pretende conhecer melhor o processo de aprendizado dos estudantes e aplicar as descobertas em esforços para melhor a qualidade de suas aulas. "Com a chegada da internet existe uma revolução", diz Garber. Para os que temem que a os avanços da internet minem as relações interpessoais proporcionadas pela convivência diária no campus, o acadêmico respode: o ensino a distância é um aliado da educação. Confira a entrevista que Alan Garber concedeu ao site de VEJA:
Quando começaram as discussões para a criação do edX? Há bastante tempo discutíamos em Harvard o tema da educação à distância. A parceria com o MIT em especial surgiu há cerca de cinco meses. Percebemos naquele momento que as duas instituições tinham muito em comum e as coisas acabaram acontecendo muito rápido.
O que motivou essa parceria? Queremos oferecer educação de qualidade para todo o mundo, melhorar o aprendizado em nosso próprio campus e realizar pesquisas aprofundadas a respeito de como as pessoas aprendem para, posteriormente, utilizarmos esses dados para aperfeiçoar a maneira como ensinamos. O edX foi criado para satisfazer esses nossos três objetivos.
A que o senhor se refere quando diz que pretende conhecer com profundidade a maneira como as pessoas aprendem? Tradicionalmente quando pensamos em medir como as pessoas aprendem, pensamos em testes padronizados que aferem o conhecimento e a partir daí são analisadas possibilidades que podem melhorar o aprendizado. Com a chegada da internet existe uma revolução. Agora sabemos com precisão o tempo que cada estudante gasta resolvendo um exercício ou quantas vezes ele precisa assistir a um vídeo até que apreenda todo o conteúdo. Sabemos onde ele clica, quando ele pausa, acelera ou simplesmente desiste de resolver algum problema. Isso tudo nos dá a dimensão exata da evolução de cada um dos estudantes e de seu processo de aprendizagem. Ainda está em discussão que tipo de dados vamos coletar e como eles serão utilizados. De qualquer forma, trata-se de um projeto bastante ambicioso.
O edX é a primeira incursão de Harvard no ensino online? Não. Já temos em funcionamento a Harvard Extension School, que oferece vídeos, cursos e certificados profissionais. Mas com o edX é a primeira vez que trabalhamos em parceria com outra instituição nessa campo.
Diante dos avanços da tecnologia, uma grande universidade pode se furtar a fazer usos de ferramentas online hoje em dia? Não. Estar ausente nessa seara não é mais uma opção. Esse é um ponto pacífico pelo menos aqui nos Estados Unidos. As universidades não se perguntam mais se vão ou não vão fazer uso de plataformas online. A pergunta que elas se fazem agora é quando e como abraçar a internet. Elas estão convencidas de que essa ferramenta vai ajudá-las em sua missão. Algumas já fizeram investimentos milionários nessa área há alguns anos e outras estão esperando. Nós, Harvard e MIT, acreditamos que o momento certo é agora.
Harvard é uma das mais prestigiadas e rigorosas universidade do mundo. Os padrões de qualidade serão os mesmo na internet que no campus da instituição? Tenho a certeza de que nosso padrão será o mesmo, mas as formas de avaliar o sucesso dos alunos e da metodologia empregada serão diferentes pelo simples fato de que os cursos serão diferentes. O conteúdo disponível na internet não é o mesmo que estará na sala de aula.
Existe um público específico que atende aos cursos online ou eles são feitos para todo mundo? Essa é uma questão a ser respondida com o tempo. Ainda não é possível dizer com precisão que tipo de aluno aprende melhor na internet. O que sabemos até o momento devido às nossas experiências anteriores é que esse tipo de ensino atinge um número grande de pessoas uma vez que é possível ter flexibilidade e as barreiras geográficas são minimizadas na web. Mas também é verdade que algumas pessoas se adequam melhor ao sistema online que outras. Com o passar do tempo, saberemos mais sobre isso e como identificar cada um dos grupos.
É possível ensinar disciplinas mais densas e complexas como filosofia na internet? Esse também é um tema que vamos descobrir ao longo da experiência. Vamos oferecer cursos de ciências humanas também e analisar como eles funcionam na prática. Eu tendo a acreditar que é possível sim, mas é necessária uma abordagem diferente da de um curso de negócios ou de computação.
Algumas pessoas se perguntam se os cursos online vão matar o contato pessoal, tão importante durante a formação dos universitários. Qual a reposta do senhor a esse temor? Não vejo que em um futuro próximo os cursos online vão acabar com o relacionamento interpessoal. Ao contrário: acredito que eles estarão caminhando juntos, em prol da educação. Com a internet, por exemplo, podemos repensar a maneira como usamos o tempo dentro da sala de aula. Isso dá liberdade para que professores e alunos experimentem novas formas de aprender. Isso porque os mestres esperam que os estudantes tenham contato com a matéria em casa e vão às aulas para discutir ou levantar questionamentos mais profundos e não para ter uma aula expositiva, como ainda acontece na maioria dos casos. Além disso, existem milhares de pessoas ao redor do mundo que gostariam de estar em Harvard mas, por diversos motivos, não podem chegar até nós. Uma plataforma online é a chance de ter ensino de excelência em qualquer canto do planeta.
Por Veja
Com informações do Blog do Professor Ivanilson