A maioria das escolas do mundo parou no tempo e ainda não se adequou às demandas e desafios do século 21. Enquanto a sociedade desenvolve e depende cada vez mais de novas tecnologias, as instituições de ensino parecem não saber como acompanhar essas transformações e sofrem para se comunicar com os alunos. A avaliação é do pesquisador David Albury, da Gelp (sigla em inglês para Global Education Leaders' Program ou, na tradução livre, Grupo Global de Líderes da Educação), que esteve no Brasil na última semana e participou de um bate-papo com jornalistas sobre os desafios na área de educação, realizado na última segunda, dia 24, em São Paulo.
O Brasil é um dos 10 países que faz parte do grupo, responsável por pesquisas sobre como implantar um sistema educacional adequado aos conhecimentos, necessidades e habilidades requeridos para os dias atuais. Para o estudioso, embora já existam exemplos de escolas adotando novas metodologias de ensino, ainda não é possível apontar um caminho certo a seguir, nem tampouco calcular em quanto tempo o mundo adotará a chamada "educação para o século 21", capaz de conquistar e atrair os estudantes, e de proporcionar, de fato, um ensino de qualidade aplicado à vida adulta.
Para exemplificar o lapso entre o que o mercado quer dos jovens recém-formados e o que eles aprendem nas instituições de ensino, Albury cita alguns dos pré-requisitos que ainda não entraram nas grades curriculares das escolas, como a capacidade de trabalhar em equipe, de solucionar problemas, de se comunicar bem, além da criatividade e do empreendedorismo.
"Nós hoje sabemos que as escolas deveriam adotar um ensino mais 'personalizado', com um currículo que atenda ao perfil, aos problemas, às necessidades e aos interesse dos alunos. (...) Também sabemos que as crianças não aprendem só nas escolas, (...) mas que a tecnologia, embora fundamental, não é tudo em uma instituição de ensino. (...) Enfim, nós sabemos o que precisamos, mas ainda não sabemos como realizar essa mudança, (...) como será esse novo modelo de ensino, e esse é o nosso grande desafio", disse Albury. "Não são os alunos de hoje que são desengajados. Nós é que não soubemos engajá-los a aprender", completou o pesquisador, ao apresentar uma análise dos desafios e obstáculos que os educadores deparam.
Para tentar identificar soluções, o grupo tem percorrido o mundo em busca de instituições de ensino que tenham adotado experiências inovadoras e bem sucedidas, que possam servir de exemplos, tanto em áreas ricas quanto em lugares pobres. A ideia é, a partir desses exemplos, implantar aos poucos projetos pilotos desse novo modelo de educação. Entretanto, ainda será preciso percorrer um longo caminho até que se alcancem os mecanismos capazes de serem disseminados e implantados em escalas maiores.
"Existem alguns obstáculos. Por exemplo, ainda não sabemos como testar, nesse novo modelo de educação, o aprendizado dos alunos. E como vamos avaliar e capacitar os professores? (...) (No Reino Unido) Nós levamos 1.000 anos para desenvolver esse sistema de educação que temos hoje. Ou, no caso do Brasil, 300 ou 200 anos... Então essa mudança não vai acontecer da noite para o dia, vai levar anos, talvez décadas", disse o pesquisador, em encontro promovido pelo Instituto Inspirare, em São Paulo.
Com informações do Blog do Professor Ivanilson