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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Problemas que enfrentamos com as mídias digitais

O problema do Brasil não é tecnológico, mas de desigualdade estrutural. A interatividade tem muito a ver com poder de compra, com educação de qualidade, com cultura empreendedora. A grande maioria das pessoas depende do modelo passivo de uma TV que dá tudo pronto, aparentemente de graça. Esse modelo fez sucesso. A interatividade pressupõe uma atitude de vida muito mais ativa, investigativa, inovadora.

Sem educação de qualidade, as pessoas têm menos poder de fazer crítica, de realizarem escolhas mais abrangentes. E nossa educação ainda é muito precária. A TV pode ser utilizada de forma muito rica e participativa com a digitalização e integração das mídias, mas sem uma melhoria efetiva na educação e nas condições econômicas correspondentes, a TV continuará ditando o lazer das pessoas, oferecendo mais oportunidades de concorrer a prêmios, de fazer compras - o que convenhamos não é um grande ganho em relação à TV atual.

As tecnologias digitais não atuam no vazio. Elas são utilizadas dentro de contextos educacionais diferentes. Grandes grupos educacionais privados pensam nelas para baratear custos, ganhar escala (aulas para mais alunos, por satélite, por exemplo); vêem a educação como investimento, como negócio e buscam utilizar as tecnologias digitais para conseguir o máximo lucro com a mínima despesa. De um lado introduzem modelos altamente complexos e sofisticados de tele-aulas, de ambientes virtuais com conteúdos disponibilizados e formas de avaliação comuns e simples.

São modelos para grandes grupos, para países inteiros, oferecidos de modo uniforme para todos, com algum apoio de instituições locais. São os modelos oferecidos pelas mega-universidades que estão se consolidando agora, que vêem na TV digital uma forma ideal de realizar este modelo massivo.

De outro lado teremos as instituições que oferecerão propostas educacionais mediadas pelas tecnologias digitais para grupos menores, com mais interação, focadas na aprendizagem, no aluno, em criação de grupos de pesquisa, de projetos e aprendizagem colaborativa.

Entre estes dois modelos extremos, haverá diversas formas de oferecimento de cursos semi-presenciais e a distância, todos mediados por tecnologias digitais simples e mais sofisticadas, com mais ou menos interação. Mas a mediação de tecnologias digitais daqui em diante será comum a todos, pela concorrência, necessidade de adaptação às novas formas de vida nas cidades, pela pressão para diminuir custos e atender aos alunos onde eles estiverem.

Outro fator complicador é o ritmo lento, complexo e descontínuo da gestão pública, com recursos, mas dificuldade na implementação, na continuidade das políticas, sem falar na corrupção, que diminui o impacto dos recursos na ponta, na escola.

As tecnologias dependem também de como cada um, professores, alunos e gestores as utilizam: em contextos e encontros pedagógicos motivadores ampliam a curiosidade, a motivação, a pesquisa, a interação. As tecnologias em contextos e encontros pedagógicos acomodados, rotineiros aumentam a previsibilidade, o desencanto, a banalização da aprendizagem, o desinteresse.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Projeto de Lei quer proibir anonimato em sites no Brasil

Páginas deverão indicar o nome do responsável na home, além do endereço de contato. Em reportagens deverá ser informado o nome e o registro do jornalista.

Um Projeto de Lei (PL) que está em tramitação na Câmara dos Deputados prevê a proibição do anonimato em sites no Brasil. Eles deverão indicar o nome do responsável na página principal, além do endereço de contato. Em matérias jornalísticas, deverá ser informado o nome e o registro profissional do jornalista responsável. A proposta é de autoria do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) e tem o código 7311/10.

De acordo com a PL, sites que produzam ou veiculem matérias jornalísticas próprias ou de terceiros, inclusive blogs, ficarão ainda submetidos a outros deveres, como comprovar a veracidade da informação prestada, assegurar o direito de resposta e observar meios éticos na obtenção da informação. A proposta proíbe preferências discriminatórias sobre raça, religião, sexo, preferências sexuais, doenças mentais, convicções políticas e condição social.

Segundo o autor do projeto, em uma rede não regulada, há muitos abusos. “O cidadão prejudicado não tem como fazer contato com os responsáveis por
sítios que não disponibilizam endereço ou nome dos jornalistas responsáveis pelas matérias veiculadas”, afirma. “Nem mesmo o direito de recurso ao Poder Judiciário é possível, uma vez que a impossibilidade de identificar os responsáveis impede a caracterização da parte a ser acionada”.

Punição

De acordo com o projeto, em caso de descumprimento, os responsáveis pelos sites no Brasil ficarão sujeitos a multa entre 5 mil e 50 mil reais por cada infração. No caso da pessoa jurídica, também serão punidos com multa os administradores ou controladores, quando tiverem agido de má-fé.

(Agência Brasil)

O falso dilema entre teoria e prática no mundo digital

Sempre que começo uma palestra ou uma aula, digo que, “além de dar aula, também trabalho.” As risadas são inevitáveis, porque todo mundo acha que quem é professor não faz nada e que aqueles que estão na prática é que realmente fazem a coisa acontecer e sabem das coisas. Não concordo com isso, e uso a frase como mera retórica de palestra. Acredito que nada poderia ser menos verdadeiro.

Para dar uma boa aula, um professor comprometido com o seu trabalho de ensinar deve estar igualmente interessado em aprender. Aprender coisas novas e novos jeitos de ensinar algo. A audiência muda a cada semestre.

Tecnologia e os velhos jargões
São novos alunos, que usam mais tecnologia de forma ou totalmente nerd ou totalmente leiga. Não tem meio termo. Por conseqüência, o professor deverá resignificar velhos jargões e tornar mais fácil o entendimento de coisas que antes ele tinha dificuldade de ensinar. Preste atenção, estou falando do professor comprometido. Não me refiro ao que vai dar aula para “faturar mais algum”.

Esse mesmo sujeito comprometido vai pensar se é melhor dar um trabalho ou uma prova. Detesto dar provas, pois conheço alguns papagaios que responderiam melhor às perguntas das provas.

Provas pressupõem que uma pessoa começa com a possibilidade de tirar dez e que o professor mostra que o sujeito sabe cinco. É uma forma muito perversa de ensinar alguém. Ensina-se pela punição e não pelo incentivo a melhorar.

Meu argumento de que trabalhos em grupo são melhores nesse processo de ensino e aprendizado vem de pesquisas que mostram que o saber em grupo é mais duradouro e muito mais rico em detalhes guardados na memória.

Provas ou trabalhos significam correção de textos, que consomem um tempo incrível e a repetição torna o trabalho cansativo. Resumindo, um bom professor trabalha muito!

Academia x mercado
Mas o grande mote da frase engraçadinha não está na oposição entre o trabalho do professor e do profissional, mas na oposição entre academia e trabalho com mão na massa.

A frase desmerece a academia, como se ela não tivesse nada a contribuir no trabalho diário de milhares de profissionais. É como se a academia fosse desvinculada da realidade e a atividade profissional fosse maliciosa.

Não acredito em acadêmicos ingênuos, e nem na ideia de que todos os profissionais sejam tão malandros assim. Aposto na diferença entre o treinamento científico e a recriação de processos nas atividades práticas.

A verdade é que não existe “a ciência da prática”, no sentido de que é possível reproduzir sucesso em projetos diferentes usando a mesma metodologia.

Raciocínios elaborados
Quem trabalha com comunicação sabe que o número de variáveis incontroláveis envolvidas torna o uso do método científico impossível.
Não há como controlar variáveis.

Não há como reproduzir tudo exato. E essa é a essência do trabalho científico. Mas esses aspectos da ciência não tiram dela o mérito do conhecimento acumulado e que contribui de maneira fundamental para a criação de um raciocínio mais denso e elaborado.

É preciso ler muito e de fontes confiáveis. É preciso ler quem critica as fontes confiáveis e daí formar sua própria opinião. Não confio em trabalhos realizados ou dirigidos por gente vaidosa e que não lê.

Prefiro gente que justifica suas escolhas com argumentos amplos, que vão do conceitual ao prático, mas que sejam embasados. Só prática ou só academia é pouco. O mundo digital é mais complexo e exige mais de todos.