Sempre que começo uma palestra ou uma aula, digo que, “além de dar aula, também trabalho.” As risadas são inevitáveis, porque todo mundo acha que quem é professor não faz nada e que aqueles que estão na prática é que realmente fazem a coisa acontecer e sabem das coisas. Não concordo com isso, e uso a frase como mera retórica de palestra. Acredito que nada poderia ser menos verdadeiro.
Para dar uma boa aula, um professor comprometido com o seu trabalho de ensinar deve estar igualmente interessado em aprender. Aprender coisas novas e novos jeitos de ensinar algo. A audiência muda a cada semestre.
Tecnologia e os velhos jargões
São novos alunos, que usam mais tecnologia de forma ou totalmente nerd ou totalmente leiga. Não tem meio termo. Por conseqüência, o professor deverá resignificar velhos jargões e tornar mais fácil o entendimento de coisas que antes ele tinha dificuldade de ensinar. Preste atenção, estou falando do professor comprometido. Não me refiro ao que vai dar aula para “faturar mais algum”.
Esse mesmo sujeito comprometido vai pensar se é melhor dar um trabalho ou uma prova. Detesto dar provas, pois conheço alguns papagaios que responderiam melhor às perguntas das provas.
Provas pressupõem que uma pessoa começa com a possibilidade de tirar dez e que o professor mostra que o sujeito sabe cinco. É uma forma muito perversa de ensinar alguém. Ensina-se pela punição e não pelo incentivo a melhorar.
Meu argumento de que trabalhos em grupo são melhores nesse processo de ensino e aprendizado vem de pesquisas que mostram que o saber em grupo é mais duradouro e muito mais rico em detalhes guardados na memória.
Provas ou trabalhos significam correção de textos, que consomem um tempo incrível e a repetição torna o trabalho cansativo. Resumindo, um bom professor trabalha muito!
Academia x mercado
Mas o grande mote da frase engraçadinha não está na oposição entre o trabalho do professor e do profissional, mas na oposição entre academia e trabalho com mão na massa.
A frase desmerece a academia, como se ela não tivesse nada a contribuir no trabalho diário de milhares de profissionais. É como se a academia fosse desvinculada da realidade e a atividade profissional fosse maliciosa.
Não acredito em acadêmicos ingênuos, e nem na ideia de que todos os profissionais sejam tão malandros assim. Aposto na diferença entre o treinamento científico e a recriação de processos nas atividades práticas.
A verdade é que não existe “a ciência da prática”, no sentido de que é possível reproduzir sucesso em projetos diferentes usando a mesma metodologia.
Raciocínios elaborados
Quem trabalha com comunicação sabe que o número de variáveis incontroláveis envolvidas torna o uso do método científico impossível.
Não há como controlar variáveis.
Não há como reproduzir tudo exato. E essa é a essência do trabalho científico. Mas esses aspectos da ciência não tiram dela o mérito do conhecimento acumulado e que contribui de maneira fundamental para a criação de um raciocínio mais denso e elaborado.
É preciso ler muito e de fontes confiáveis. É preciso ler quem critica as fontes confiáveis e daí formar sua própria opinião. Não confio em trabalhos realizados ou dirigidos por gente vaidosa e que não lê.
Prefiro gente que justifica suas escolhas com argumentos amplos, que vão do conceitual ao prático, mas que sejam embasados. Só prática ou só academia é pouco. O mundo digital é mais complexo e exige mais de todos.
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