A obra foi lançada ontem (17/10) em evento no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo, onde Shimahara, André Gravatá, Camila Piza e Carla Mayumi realizaram uma roda de conversa e contaram as experiências educativas que encontraram mundo afora.
Eles visitaram nove escolas em países como Estados Unidos, Índia, Suécia, Grã-Bretanha, Indonésia, Espanha, Argentina e África do Sul, além de quatro instituições de ensino brasileiras: Politéia, Amorim Lima e Cieja Campo Limpo, em São Paulo, e o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento), de Minas Gerais.
“O mundo que temos hoje é um retrato da nossa educação. Uma educação dividida em caixinhas resulta em uma sociedade também dividida”, afirma o jornalista Gravatá, ao analisar a situação atual da educação brasileira. “Procuramos entender cada lugar visitado por vários ângulos, enfim, de uma maneira transversal”, declarou Piva, que é formada em psicologia.
No mundo
As diferentes origens dos autores refletem na busca pela diversidade de experiências escolares relatadas no livro – os autores escolheram escolas de ensino fundamental, médio e superior e também aquelas que não dividem suas turmas por idade, além dos temas variados que elas focam seu trabalho, como sustentabilidade, arte e jogos. “A gente trouxe esse olhar múltiplo, para mostrar que dá pra transformar a educação de diversas maneiras, e não apenas através da escola e do educador em si”, acredita Mayumi.
O projeto das Escuelas Experimentales (escolas experimentais), na Argentina, surgiu na década de 60 com uma professora de música, e até hoje tem sua aprendizagem baseada na arte e em processos ligados à livre expressão. “Lá não tem reunião de pais burocráticas, mas sim um encontro mensal numa padaria, na qual pais, filhos e professores fazem pizzas e depois vendem na comunidade ao redor”, conta Gravatá.
A Quest to Learn, localizada em Nova York, investe sua aprendizagem através da lógica do jogo, e não apenas na tecnologia. Também no Estados Unidos, em Massachussets, a North Star é um clube de aprendizagem para adolescentes de 12 a 18 anos que, além dar liberdade para o aluno entrar e sair a hora que quiser, dá aulas coletivas e estimula os alunos a aprender em outros espaços para além da escola (toda quarta-feira é dedicada a visitas educativas).
Na Europa, o Youth Initiative Program estimula o autoconhecimento de seus alunos ao propor a realização de autorretratos e biografias para eles conhecerem melhor a si mesmos, além de propiciar intercâmbios constantes a seus alunos, que variam entre 19 e 25 anos. “Nesta escola sueca, não há professores, e sim contribuidores”, relata Shimahata.
A experiência com empreendedorismo foi vista no Team Academy, localizado na Espanha, um curso de ensino superior no qual os alunos podem abrir uma empresa na primeira semana de aula e trabalham com clientes reais. Há rotatividade entre as funções. “É o que chamamos de aprender fazendo”, observa Mayumi.
Na Inglaterra, o Schumacher College é uma instituição de ensino superior que reconsiderou a certificação e aceita mestrados de alunos que nem sequer estão graduados. “A pessoa consegue entrar de acordo com sua experiência de vida”, revela Gravatá. Existe um aspecto comunitário muito presente na universidade, e há aulas que acontecem em parques e até mesmo durante jantares.
A preocupação ambiental é a principal característica do Sustainability Institute, onde os cerca de 50 alunos de 17 nacionalidades distintas trabalham em hortas e jardins. O instituto sul-africano também oferece bolsas integrais para os alunos de baixa renda. No Riverside, na Índia, os alunos não são separados de acordo com a idade e tem liberdade para estudarem o que lhes interessa. “É a teoria das múltiplas inteligências. Se o aluno gosta mais de esporte, ele encontra espaço para aprender sobre isso”, conta Gravatá.
Na Indonésia, a Green School, escola inserida no meio ambiente ainda pouco explorado, é feita de bambu e possui iluminação natural. Nela, há módulos que permitem ao aluno do ensino médio traçar seu caminho.
No Brasil
Das 13 escolas descritas no livro, três ficam em São Paulo. No Cieja Campo Limpo, mais de mil jovens e adultos estudam em uma instituição que tem suas portas sempre abertas para quem quiser frequentar o espaço. “É interessante notar que jovens e até mesmo idosos podem ter aulas juntos e trocar experiências”, relata Gravatá.
Na EMEF Amorim Lima, as grades foram retiradas e as paredes pintadas pelos cerca de 800 alunos, que podem escolher os próprios roteiros de aprendizagem. Também não há divisão entre as classes, e alunos de diferentes séries têm aulas no mesmo espaço. Para Piva, as contradições expostas servem para enriquecer o ambiente escolar. Ela observa que “para causar transformação na educação, precisamos lidar com esses conflitos”.
Ainda na capital paulista, a escola Politéia estimula os alunos a encontrarem suas paixões, segundo Shimahara. “Eles podem fazer projetos de gibi ou até jogos de videogame”, afirma. A Politéia é uma escola democrática que faz assembleia semanal entre a gestão, o corpo docente e os alunos. “O momento coletivo é valorizado, e mais: é uma escola que aceita repensar suas regras”.
No CPCD, que começou em Minas Gerais, mas já espalhou projetos por São Paulo e Maranhão, tanto a criança como o adulto são considerados educadores. Gravatá conta que Tião Rocha, um dos criadores do projeto, busca uma relação maior com a comunidade onde a escola está inserida para melhorar a aprendizagem. “Andando por lá, ele descobriu que uma senhora tinha uma receita de biscoito de polvilho e mostrou ela às crianças, que passaram a fazer os biscoitos em forma de letras. Virou o biscoito ‘escrevido’, que resulta de uma relação evidente entre a senhora e o projeto educativo”, resume o jornalista.
Download
Ao ser financiado por meio de uma plataforma de crowdfunding, o livro “Volta ao mundo em 13 escolas” arrecadou R$ 56 mil através do Catarse e obteve parceria com a Fundação Telefonica para ser impresso.
A íntegra do livro está disponível para download (clique aqui para baixar).
Por Blog do Professor Ivanilson
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