O uso de tecnologia dentro da sala de aula ainda é motivo de inquietação para muitos educadores. Mas em Campo Bom, município gaúcho a 50 quilômetros de Porto Alegre, um professor não só criou uma web TV com a ajuda dos alunos como levou o projeto para fora dos limites da escola. No começo de 2009, o professor de português Jorge Cesar Barboza Coelho, 35 anos, e seus alunos lançaram o CBB WebTV, iniciativa que mudou a realidade da Escola Municipal de Ensino Fundamental Borges de Medeiros e da cidade.
A partir de uma sondagem entre os alunos, Coelho chegou ao diagnóstico de que a televisão, o celular e outros aparatos tecnológicos estavam presentes na vida de mais de 90% dos estudantes. Seguindo um dos seus princípios, de que projetos não podem partir somente do educador, o professor convocou alunos, pais e colegas de profissão para pensar uma forma de se apropriar da tecnologia e tornar a dinâmica das aulas mais atraente, com a criação de um novo projeto de ensino. "Envolvemos os estudantes em todo o processo. Primeiro provocando, perguntando se eles achavam as aulas chatas e o que poderia mudar, até chegar no nascimento do CBB WebTV", explica o professor.
O CBB (sigla para Clube dos Blogueiros do Borges, em referência à instituição em que foi criado) é um núcleo de ideias em forma de WebTV, em que alunos - em sua maioria de 10 a 15 anos - elaboram notícias, reportagens, documentários, entrevistas, enquetes e programas sobre o cotidiano escolar e outros interesses jovens. Além disso, promovem coberturas ao vivo dos eventos relevantes da cidade de Campo Bom. Em 2011, o projeto evoluiu, e a grade foi organizada em diversos canais: o CBB News, o CBB Live, o CBB Defender (reportagens sobre bullying) e o CBB Sports.
Projeto inspira outras escolas da cidade
Com recursos da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, o projeto envolve anualmente cerca de 100 alunos e hoje não se limita apenas à Escola Borges de Medeiros. Atualmente nove instituições da rede pública de Campo Bom participam da iniciativa. Esse sucesso do CBB WebTV fez com que o coordenador se tornasse um dos dez ganhadores do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 de 2012, concedido anualmente pela Fundação Victor Civita.
O projeto também esteve entre os vencedores da 6ª edição do Prêmio Professores do Brasil, iniciativa do Ministério da Educação (MEC) e, em 2011, representou o País na seletiva internacional do Prêmio Educadores Inovadores da Microsoft, em Washington (Estados Unidos), após vencer a etapa nacional. O trabalho do professor em frente ao projeto foi reconhecido também pela administração municipal: Coelho foi convidado, no começo de 2012, para trabalhar na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Campo Bom.
A mudança na dinâmica da sala de aula causada pelo CBB - que já envolveu, desde o início, cerca de 800 alunos - incentivou outros professores a pensar em novas formas de avaliação. "São necessários exemplos motivadores que incentivem os professores a ousar. Hoje a maioria está envolvida no CBB e inclusive usa alguns programas como avaliação em suas disciplinas", conta Coelho. A forma de avaliação tradicional é alvo de críticas do coordenador do projeto. "Na escola, não há espaço para o aluno errar. Você faz uma prova e, se se equivocar, perde nota. E na vida não é assim. Nós erramos, é normal. Errar e aprender com o erro. Temos que estar cientes disso no momento de avaliar alguém e de criar dinâmicas de aprendizado", opina.
No começo do projeto, segundo o professor, alguns alunos até buscavam participar em busca de uma compensação no boletim. Hoje, segundo ele, todos se envolvem muito mais, "vestem a camisa em diversas frentes", como por exemplo, campanhas de arrecadação promovidas pela escola, que acabam sendo lideradas por integrantes do CBB. Para o professor, a impressão é de que a cidade passou a valorizar mais a educação e a escola depois do projeto. "Isso se deve ao fato de não fazermos do CBB WebTV uma ação isolada. Nossa intenção é integrar cada vez mais pessoas", diz.
Qualquer estudante pode fazer parte do CBB WebTV, enviando matérias e trabalhos. Quando o nível de comprometimento é alto, este aluno recebe o título de CBB Master e passa a fazer parte de uma equipe fixa, que auxilia estudantes e educadores nas ações digitais. Um dos CBB Master é Gabriel Tonin, aluno do 9º ano da Escola Estadual Borges de Medeiros. Envolvido no projeto desde o princípio, o estudante de 13 anos criou o canal que hoje se chama CBB Games.
"Fazíamos programas com jogos como Age of Empires e íamos aprendendo sobre a Idade Média, por exemplo. Discutíamos como os castelos eram construídos e de que maneira as armaduras dos guerreiros medievais eram feitas", explica o estudante. Para Gabriel, a máxima "estudar se divertindo" é o melhor do projeto.
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