Diante da enorme capacidade da internet de quebrar barreiras para o conhecimento e revolucionar a educação, professores e universitários de diferentes partes do mundo têm apostado em mais uma ferramenta para ajudar no aprendizado de crianças e jovens. Sites com vídeo-aulas de alguns dos conteúdos mais espinhosos da educação básica têm se popularizado, inclusive, no Brasil.
Em 2004, um americano descendente de indianos, Salman Khan, criou os primeiros vídeos para ajudar uma sobrinha que tinha dificuldades em matemática.
Em uma lousa, sem que ele aparecesse, todos os problemas eram resolvidos. Logo as “aulas grátis” se espalharam. O conceito – apesar da distância do professor – faz com que as dicas se pareçam com uma “aula particular”, com a vantagem de poder ser vista a qualquer hora ou local. E, melhor, de graça.
Não demorou para que professores e estudantes brasileiros se inspirassem no modelo da Khan Academy e criassem experiências com a cara do Brasil. Bruno e Lucimara Wernerck, que estudaram em escolas públicas, conseguiram vagas em boas universidades públicas, queriam que outros jovens tivessem a mesma oportunidade. Como conheciam as falhas da educação básica, se dispuseram a ajudar outros estudantes a superá-las. Como eles.
O ideal fez com que eles começassem a produzir vídeos, com aulas sobre conteúdos do ensino médio nas áreas de matemática, física, química e biologia. Assim como Salman Khan, os professores não aparecem no vídeo, apenas as resoluções e explicações dos exercícios. Desde abril deste ano, Bruno e Lucimara, que ganharam o apoio de George Hirokawa, que desenvolveu a plataforma do site, chamado O kuadro e os colocaram à disposição dos alunos.
Há mais de 600 vídeos disponíveis nas quatro áreas, todos produzidos por Bruno e Lucimara. De vez em quando, um professor de português que se encantou com o projeto também colabora enviando algum material. É possível assisti-los no site oficial , no youtube ou no vimeo. Mais de 7 mil professores e alunos de todo o País já se cadastraram para baixar os vídeos, todos gratuitos.
Bruno, Lucimara e George não vivem do site. Bruno é engenheiro em eletrônica formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e trabalha no setor de telecomunicações. Lucimara formou-se em Biologia (licenciatura) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atua em uma indústria de produtos ortopédicos. George, formado em comunicação social, desistiu do emprego em uma empresa de telecomunicações para se tornar professor universitário depois de se envolver com a experiência do kuadro.
Os três tiram recursos do próprio bolso para manter a produção, que pelo caráter caseiro, não é tão custosa. Mas hoje eles já procuram parcerias para expandir a iniciativa. Além de acharem necessário expandir as áreas de atuação, eles querem colocar em prática um novo projeto, já apelidado de Embaixadores da Educação. O objetivo é conseguir apoio para oferecer bolsas de estudos a universitários que também tenham vindo de escolas públicas, para que eles ajudem outros alunos como eles.
“Hoje tenho certeza de que estou ajudando as pessoas. Queremos contribuir com o que falta no governo, no ensino básico brasileiro, especialmente com quem não tem condições de disputar o vestibular nas mesmas condições que os mais favorecidos economicamente. Há muitas pessoas que querem estudar e só precisam de uma oportunidade”, comenta George. Segundo ele, apesar de o professor não estar online, as aulas em vídeo tornam o conteúdo mais atrativo e o conceito se aproxima de uma aula particular. “Eles aprendem mais”, diz.
Idealismo X negócio
Há modelos também que tentam unir o idealismo de quem acredita em poder mudar a educação com a vontade de torná-lo, ao mesmo tempo, um negócio, que possa render recursos para montar uma organização não-governamental. Claudia Massei, co-fundadora do site QMágico, conta que essa é a ideia do projeto, que hoje também já conta com mais 600 vídeos e 2 mil exercícios de matemática disponíveis. Mas nem sempre foi assim.
Quando criaram o site, também baseado no modelo Khan Academy, Thiago Feijão, outro sócio-fundador e mais três amigos que participavam do projeto, todos estudantes do ITA, tinham a expectativa de vender, a preços bem baratos, a visita a cada vídeo. Como uma aula particular mesmo. Porém, logo de início, perceberam que a proposta não funcionaria. “Mesmo que a gente cobrasse pouco, isso não faria o conteúdo chegar a todo mundo”, diz Claudia.
Portanto, os jovens criadores do QMágico decidiram criar duas plataformas diferentes. Uma é gratuita, possui todas as vídeo-aulas, exercícios interativos e um software simplificado que mostra ao aluno o desempenho dele nas questões, acertos e erros, apresenta quais vídeos devem ser assistidos para sanar as dúvidas do que ele errou. Ainda há jogos educativos disponíveis, em que ele vai sendo pontuado a cada exercício feito.
A outra plataforma é paga. Escolas públicas e privadas já utilizam o sistema do QMágico, que une o conteúdo à necessidade de acompanhamento de uma escola. Os professores podem acompanhar – online ou não – o desempenho de seus alunos nas questões (produzidas pela própria escola ou pelos criadores do site); podem disponibilizar vídeos e outros materiais. “Começamos a tentar entender o que as escolas estavam precisando. E percebemos que era a gestão do aprendizado”, conta a co-fundadora.
Os clientes do site pagam entre R$ 3 e R$10 por aluno a cada mês, dependendo do volume de estudantes atendidos em cada contrato. A rede de ensino estadual de Goiás, o maior cliente, utiliza a plataforma em mais de 400 escolas, atendendo a 9 mil alunos. Eles desenvolveram um programa específico para o Enem para eles. Há também parcerias com escolas públicas na Grande São Paulo, com uma faculdade privada de Engenharia no Rio Grande do Sul (eles vão usar as ferramentas para preparar os alunos com dificuldades) e estão em negociação com o Colégio Bandeirantes, de São Paulo.
Espaço também em grandes instituições
A popularidade dos vídeos e do poder de alcance da internet fez com que até os mais céticos a respeito das vantagens da educação a distância se curvassem diante da aposta feita por instituições tradicionais e renomadas, como a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a Sorbonne, na França, ou a Universidade de São Paulo, no Brasil. Além de já oferecerem cursos a distância, muitas delas têm desenvolvido projetos de vídeo-aulas gratuitas.
Curiosidade: Veja o que já foi inovação nas salas de aula
A USP lançou a pouco tempo o e-Aulas. Os professores disponibilizam aulas gravadas em vídeo a quem estiver interessado. Assim como faz Harvard, MIT, Princeton. A FGV Online também montou um projeto em que oferece 41 cursos gratuitos nas áreas de atuação da fundação, como Administração, Economia e Direito. Justo disso, a instituição lançou um grande portal para o ensino médio, com aulas e questões gratuitas voltadas para o Enem.
IG
Com informações do Blog do Professor Ivanilson
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