É possível que, no futuro, escolas e universidades sejam deslocadas para uma grande sala de aula na web? O investimento de prestigiadas universidades americanas no sistema de ensino a distância aponta que o método está ganhando cada vez mais espaço no meio acadêmico. Recentemente, gigantes do ensino superior nos Estados Unidos têm aprimorado iniciativas que remontam a projetos como a Khan Academy, site criado em 2006 que disponibiliza videoaulas educativas gratuitamente.
Hoje, mesmo quem não está matriculado em grandes centros universitários tem acesso ao conteúdo das aulas presenciais e pode participar de fóruns online, interagindo com outros estudantes e com professores, a custo zero. A proposta interativa é a base de novas plataformas como o edX, uma parceria entre a Universidade de Harvard, o Massachussetts Institute of Technology (MIT) e o Coursera, do qual participam cinco universidades americanas.
Oferecendo cursos de centros como Princeton e a Universidade da Califórnia em Berkeley, o Coursera teve início no segundo semestre de 2011, quando o departamento de Ciências da Computação da Universidade de Stanford lançou sua plataforma de ensino online. O oferecimento gratuito de apenas dois cursos da instituição levou cerca de 200 mil estudantes do mundo todo a se inscreverem. Segundo Daphne Koller e Andrew Ng, fundadores do Coursera, foi possível perceber no grupo o desejo por experiências educacionais acessíveis e de qualidade e que pudessem capacitar as pessoas a melhorar suas vidas e a de suas comunidades.
A partir de então, o interesse dos estudantes decolou, e foram adicionados novos cursos, que vão desde algoritmos até mitologia grega e romana, oferecidos também por outras instituições conceituadas. Segundo os fundadores, a proposta do Coursera foi muito bem recebida por grandes universidades. O projeto conta com um investimento de US$ 16 milhões (aproximadamente R$ 32 milhões) de empresas do Vale do Silício.
Os cursos oferecidos no site consistem em videoaulas de dez a 15 minutos, disponibilizadas aos poucos (o calendário com as datas de lançamento das aulas está disponível na página de cada curso). As lições são complementadas por meio de testes e exercícios formulados com base em princípios pedagógicos que visam a garantir máxima apreensão e retenção do conteúdo - como o método de domínio da aprendizagem (mastery learning), que permite a cada estudante aprender em seu próprio ritmo. Há, ainda, fóruns interativos onde os estudantes podem trocar ideias com outros alunos e receber feedback dos professores, monitorando seu progresso. O elemento social-interativo é o que diferencia o Coursera de iniciativas como a Khan Academy e os consórcios Open Course Ware - esta última adotada no Brasil por instituições como a Unicamp. Nesse tipo de plataforma, o conteúdo acadêmico disponibilizado gratuitamente em vídeo não é complementado com a assistência dos professores.
Conteúdo, não formação
Os termos do site esclarecem que a intenção do Coursera não é a de substituir o ensino formal: os cursos oferecidos não rendem créditos universitários aos estudantes, e apenas alguns podem emitir certificados de participação, conforme o desempenho do aluno.
Porém, resta o debate sobre como essa nova abordagem irá repercutir no sistema de educação a distância em todo o mundo - somente no Brasil, 15% dos universitários estão matriculados em programas de ensino a distância, e as projeções do Ministério da Educação (MEC) é que o sistema atenda a mais de 600 mil alunos até 2014. "O Coursera tem grande potencial. Certamente o oferecimento de conteúdos educacionais online é uma tendência irreversível que trará impactos na educação formal", diz o professor Romero Tori, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e do Centro Universitário Senac e autor do livro Educação sem Distância - As Tecnologias Interativas na Redução de Distâncias em Ensino e Aprendizagem (ed. Senac).
Segundo ele, os pontos fortes desse tipo de iniciativa são a democratização no acesso ao conhecimento - que oferece oportunidades a pessoas de qualquer lugar ou faixa social que desejem aprender de forma autodidata - e a possibilidade dos professores de escolas formais utilizarem o material online como apoio aos cursos presenciais.
Contudo, Tori não crê que o modelo lançado pelo Coursera aponte para um futuro feito de escolas e universidades virtuais e afirma que a substituição dos cursos formais pelas aulas a distância é uma ideia reducionista. "Esses materiais online distribuídos de forma massificada oferecem conteúdos, não formação. Há muito tempo sabemos que os modelos 'conteudistas' e baseados em estímulo-resposta - que são justamente os modelos do Coursera, Khan Academy e outros - são ultrapassados. Não que conteúdos não sejam importantes: o erro está em se parar por aí. A boa educação vai além, com atividades que envolvem construção de conhecimento, aprendizagem por projetos, trabalhos em equipe, sempre supervisionados de perto por professores."
Tori acredita que projetos como o Coursera podem auxiliar na redução da demanda por conteúdo em sala de aula, liberando tempo das aulas presenciais para atividades de construção do conhecimento, além de "desmascarar" profissionais cujo método de ensino é baseado na simples transmissão de conteúdo.
Para José Armando Valente, professor do departamento de Multimeios do Instituto de Artes da Unicamp, as próprias limitações existentes no ensino formal do País dificultam que as vantagens oferecidas por esse sistema, como as atividades de criação coletiva do conhecimento, sejam verificadas na prática. "Hoje, nas salas de aula, não existem tantas possibilidades como nos cursos a distância. Você expõe o conteúdo e o aluno não tem chances de aplicar tudo aquilo que ele está vendo", diz o professor.
Citando o exemplo das aulas de cirurgia médica, o professor ressalta que o sistema não é totalmente adequado a disciplinas de caráter majoritariamente prático, mas diz que, em grande parte das matérias oferecidas atualmente nos cursos a distância, além do conteúdo, há a oportunidade de se desenvolver atividades mais vantajosas do ponto de vista prático por meio das ferramentas interativas do sistema. "É uma grande oportunidade para as pessoas exercitarem o conhecimento", afirma.
Koller e Ng também acreditam que as possibilidades oferecidas pelo virtual podem dar origem a uma nova experiência potencialmente tão rica quanto as aulas tradicionais. Os cursos online, que até agora se baseavam principalmente em vídeos complementares às lições presenciais, têm grande potencial para criar novas experiências de aprendizagem que vão além das aulas tradicionais, defendem os fundadores do Coursera. Eles ressaltam que, em vez de simplesmente assistirem a uma aula, cada vez mais os estudantes podem acessar recursos online que inspiram novos modos de pensar, praticar e interagir com o material e as pessoas, contribuem para melhores resultados no aprendizado.
O projeto ainda está aperfeiçoando os métodos de ensino e atendimento ao aluno, mas as expectativas são de que dezenas de milhões de estudantes assistam às aulas nos próximos cinco anos, fazendo das plataformas online uma ferramenta de estudo não só dos estudantes americanos, mas do mundo inteiro.
Hoje, mesmo quem não está matriculado em grandes centros universitários tem acesso ao conteúdo das aulas presenciais e pode participar de fóruns online, interagindo com outros estudantes e com professores, a custo zero. A proposta interativa é a base de novas plataformas como o edX, uma parceria entre a Universidade de Harvard, o Massachussetts Institute of Technology (MIT) e o Coursera, do qual participam cinco universidades americanas.
Oferecendo cursos de centros como Princeton e a Universidade da Califórnia em Berkeley, o Coursera teve início no segundo semestre de 2011, quando o departamento de Ciências da Computação da Universidade de Stanford lançou sua plataforma de ensino online. O oferecimento gratuito de apenas dois cursos da instituição levou cerca de 200 mil estudantes do mundo todo a se inscreverem. Segundo Daphne Koller e Andrew Ng, fundadores do Coursera, foi possível perceber no grupo o desejo por experiências educacionais acessíveis e de qualidade e que pudessem capacitar as pessoas a melhorar suas vidas e a de suas comunidades.
A partir de então, o interesse dos estudantes decolou, e foram adicionados novos cursos, que vão desde algoritmos até mitologia grega e romana, oferecidos também por outras instituições conceituadas. Segundo os fundadores, a proposta do Coursera foi muito bem recebida por grandes universidades. O projeto conta com um investimento de US$ 16 milhões (aproximadamente R$ 32 milhões) de empresas do Vale do Silício.
Os cursos oferecidos no site consistem em videoaulas de dez a 15 minutos, disponibilizadas aos poucos (o calendário com as datas de lançamento das aulas está disponível na página de cada curso). As lições são complementadas por meio de testes e exercícios formulados com base em princípios pedagógicos que visam a garantir máxima apreensão e retenção do conteúdo - como o método de domínio da aprendizagem (mastery learning), que permite a cada estudante aprender em seu próprio ritmo. Há, ainda, fóruns interativos onde os estudantes podem trocar ideias com outros alunos e receber feedback dos professores, monitorando seu progresso. O elemento social-interativo é o que diferencia o Coursera de iniciativas como a Khan Academy e os consórcios Open Course Ware - esta última adotada no Brasil por instituições como a Unicamp. Nesse tipo de plataforma, o conteúdo acadêmico disponibilizado gratuitamente em vídeo não é complementado com a assistência dos professores.
Conteúdo, não formação
Os termos do site esclarecem que a intenção do Coursera não é a de substituir o ensino formal: os cursos oferecidos não rendem créditos universitários aos estudantes, e apenas alguns podem emitir certificados de participação, conforme o desempenho do aluno.
Porém, resta o debate sobre como essa nova abordagem irá repercutir no sistema de educação a distância em todo o mundo - somente no Brasil, 15% dos universitários estão matriculados em programas de ensino a distância, e as projeções do Ministério da Educação (MEC) é que o sistema atenda a mais de 600 mil alunos até 2014. "O Coursera tem grande potencial. Certamente o oferecimento de conteúdos educacionais online é uma tendência irreversível que trará impactos na educação formal", diz o professor Romero Tori, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e do Centro Universitário Senac e autor do livro Educação sem Distância - As Tecnologias Interativas na Redução de Distâncias em Ensino e Aprendizagem (ed. Senac).
Segundo ele, os pontos fortes desse tipo de iniciativa são a democratização no acesso ao conhecimento - que oferece oportunidades a pessoas de qualquer lugar ou faixa social que desejem aprender de forma autodidata - e a possibilidade dos professores de escolas formais utilizarem o material online como apoio aos cursos presenciais.
Contudo, Tori não crê que o modelo lançado pelo Coursera aponte para um futuro feito de escolas e universidades virtuais e afirma que a substituição dos cursos formais pelas aulas a distância é uma ideia reducionista. "Esses materiais online distribuídos de forma massificada oferecem conteúdos, não formação. Há muito tempo sabemos que os modelos 'conteudistas' e baseados em estímulo-resposta - que são justamente os modelos do Coursera, Khan Academy e outros - são ultrapassados. Não que conteúdos não sejam importantes: o erro está em se parar por aí. A boa educação vai além, com atividades que envolvem construção de conhecimento, aprendizagem por projetos, trabalhos em equipe, sempre supervisionados de perto por professores."
Tori acredita que projetos como o Coursera podem auxiliar na redução da demanda por conteúdo em sala de aula, liberando tempo das aulas presenciais para atividades de construção do conhecimento, além de "desmascarar" profissionais cujo método de ensino é baseado na simples transmissão de conteúdo.
Para José Armando Valente, professor do departamento de Multimeios do Instituto de Artes da Unicamp, as próprias limitações existentes no ensino formal do País dificultam que as vantagens oferecidas por esse sistema, como as atividades de criação coletiva do conhecimento, sejam verificadas na prática. "Hoje, nas salas de aula, não existem tantas possibilidades como nos cursos a distância. Você expõe o conteúdo e o aluno não tem chances de aplicar tudo aquilo que ele está vendo", diz o professor.
Citando o exemplo das aulas de cirurgia médica, o professor ressalta que o sistema não é totalmente adequado a disciplinas de caráter majoritariamente prático, mas diz que, em grande parte das matérias oferecidas atualmente nos cursos a distância, além do conteúdo, há a oportunidade de se desenvolver atividades mais vantajosas do ponto de vista prático por meio das ferramentas interativas do sistema. "É uma grande oportunidade para as pessoas exercitarem o conhecimento", afirma.
Koller e Ng também acreditam que as possibilidades oferecidas pelo virtual podem dar origem a uma nova experiência potencialmente tão rica quanto as aulas tradicionais. Os cursos online, que até agora se baseavam principalmente em vídeos complementares às lições presenciais, têm grande potencial para criar novas experiências de aprendizagem que vão além das aulas tradicionais, defendem os fundadores do Coursera. Eles ressaltam que, em vez de simplesmente assistirem a uma aula, cada vez mais os estudantes podem acessar recursos online que inspiram novos modos de pensar, praticar e interagir com o material e as pessoas, contribuem para melhores resultados no aprendizado.
O projeto ainda está aperfeiçoando os métodos de ensino e atendimento ao aluno, mas as expectativas são de que dezenas de milhões de estudantes assistam às aulas nos próximos cinco anos, fazendo das plataformas online uma ferramenta de estudo não só dos estudantes americanos, mas do mundo inteiro.
- Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
- Com informações do Blog do Professor Ivanilson
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